A minha janela
Aqui da minha janela
vejo o tempo a passar
vejo o sol, vejo a chuva
vejo a noite a chegar
Daqui vejo o nevoeiro
que não deixa enxergar
vejo a lua tão serena
que até me faz suspirar
Vejo o mendigo a pedir
o varredor a limpar
a criança a sorrir
o bêbado a cambalear
Vejo o velho que se arrasta
e a vaidosa a passar
a peixeira e os pregões
o drogado a roubar
Vejo pobreza encoberta
e muitas banalidades
o cidadão que disserta
acerca das desigualdades
O arrumador que chateia
o autocarro atrasado
o policia que vagueia
o guarda nocturno cansado
A fila de carros parada
e muita poluição no ar
a louca esgazeada
o manco que vai a mancar
Aqui da minha janela
vejo tudo a passar
aqui da minha janela
só não dá p’ra ver o mar.