UM GRÃO DE LÁGRIMAS

UM GRÃO DE LÁGRIMA

(Cena de uma lágrima escorrendo no rosto da minha neta)

a) Vilson Dias Lima

Às vezes me invejo sim

Da água fina lá de cima

Que tal qual menina

Beija o campo seco esturricado

Sem força, definhado.

Invejo-me também

Da pequenina nascente

Que corre suavemente

Livre pelos vales livres

E no mar vai adormecer

Ás vezes não sinto inveja não

Da água que corre para os rios

Do campo desvirginado pelo pó

Mistura do homem rude sem dó

Assassino de vidas indefesas.

Não me invejo também

De leitos agonizando

Suplicando socorro ao vento

E lentos, em desalentos

Aguardam a morte chegar

Ah quanto inveja sinto

Da gota da água na flor

Saciando a flor e o beija-flor,

A relva virgem refrescada,

A madrugada neblinada.

Inveja-me da água em gota

Caindo na face inocente

Pára, repentinamente

Sem prá que. Sem porquês.

Ocultando o caminho

E no altar dos anjos

Os deuses esculpem

Um grão de lágrima

... Agora é você quem sente inveja de mim.

Vilson Caraíbas
Enviado por Vilson Caraíbas em 23/02/2009
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