UM GRÃO DE LÁGRIMAS
UM GRÃO DE LÁGRIMA
(Cena de uma lágrima escorrendo no rosto da minha neta)
a) Vilson Dias Lima
Às vezes me invejo sim
Da água fina lá de cima
Que tal qual menina
Beija o campo seco esturricado
Sem força, definhado.
Invejo-me também
Da pequenina nascente
Que corre suavemente
Livre pelos vales livres
E no mar vai adormecer
Ás vezes não sinto inveja não
Da água que corre para os rios
Do campo desvirginado pelo pó
Mistura do homem rude sem dó
Assassino de vidas indefesas.
Não me invejo também
De leitos agonizando
Suplicando socorro ao vento
E lentos, em desalentos
Aguardam a morte chegar
Ah quanto inveja sinto
Da gota da água na flor
Saciando a flor e o beija-flor,
A relva virgem refrescada,
A madrugada neblinada.
Inveja-me da água em gota
Caindo na face inocente
Pára, repentinamente
Sem prá que. Sem porquês.
Ocultando o caminho
E no altar dos anjos
Os deuses esculpem
Um grão de lágrima
... Agora é você quem sente inveja de mim.