Canto em um canto o encanto
Por todas as madrugadas...
Aquelas horas vagueantes
Tempo de silêncios e concha
Onde nada se move
Nada se diz
Tudo se espera.
Canto à madrugada que não nos traz
A apreensão das manhãs iluminadas...
A insanidade das cidades agitadas
Os papéis que decoramos sem querer.
O abraço ds madrugadas é como os da mãe, doce infância
Em que perdíamos a consciência
Sono reparador da perdida inocência.
As madrugadas são todas iguais, maravilha única,
Nelas, eu não sou eu
Você não é você
Somos alma desperta, olhos desmesurados
Palpitantes pela alegria da nudez.
Só quando o galo anunciar a manhã, bíblica traição
Desfaz-se o doce encanto, a inefável mentira
E choramos pela finda madrugada...
É chegada a hora do destino, a fala decorada
A impostura que nos ofende
A decisão que nos amarga...
Os sapatos envolvem os pés descalços
O celular trina sua tecnologia
Revoga-se a Lei Aúrea
Que brevemente
Salvou-nos da negra escravidão.