Apenas Mulher
Meu rosto é de garça pousada no ocaso que mira
o rastro da nuvem tocante e seu âmbar de aurora;
sorrio encanto escondido atrás duma tarde fresca,
como quem sacia doces volúpias enquanto brinca!
Leve como a canção passageira que deixa saudade,
embalo-te não como flor sem mistério e ansiedade,
sou sensível a tua pele de chuva molhando o chão,
por cujo cheiro ocre suado me derreto e desmancho,
aguardo tuas mãos artesãs me esculpirem no riacho,
que murmura, não mais que o fascínio desta canção.
Choram as árvores curvadas sobre mim em reverência
a minha simplicidade nua que tem mel na essência,
buscando em teus braços pontes à travessia da vida,
sinta minha pele de frescor e calor virgens ainda
das tuas cavidades e protuberâncias de macho viril,
persuasivo amante dos dedos de seda e toque sutil!
Não venho, mas apareço surpreendendo como pássaro
devorando-te com as carícias d’uma fera misteriosa,
dama selvagem, virgem de leite, realizo o mais raro
d’inimagináveis sonhos que tens nesta vida radiosa!
Choro tua ausência, enciúmo se há u’a lua te vendo,
renasço em risos ao teu olhar morno me chamando,
mas me dou em gotas suaves até incitar teu desejo,
a ponto de amorosamente morreres por um beijo!
Sedutoramente disfarço em meus dons de menina
e vou beijando as rugas do teu pensar irreverente,
e na relva molhada e cheirosa te faço rolar tal pena
tênue voando feliz ao som dos céus, eternamente!
Meu balé de gazela meiga delirante te hipnotiza,
quando me escondo na nuvem que passa, tão nua
quanto vazio fica teu olhar quando não me batiza,
e se entorpece ao meu toque charmoso e continua!
Meus segredos, se não digo, quero que os adivinhe
um a um, até todos, num despetalar mais indecente
que o do fecundo roseiral que na ventania se banhe,
deitado em pudor virginal, incrível e deslumbrante!
Santos-SP-08/04/2006