Sonho a verdade que vivo
sonho a verdade que quero.
não sei se perceberás que
enquanto o sonho acontece
ele é tão real como eu ou tu,
a terra escorrendo entre os dedos,
o vento passando através da janela aberta...
não sei se acreditas pisar o solo,
mas sei que o meu sonho
abstrato
se faz concreto.
não se sonha acordada como se dormindo,
sonha-se algo há muito congeminado.
é um acto a ir ensaiando
vezes sem conta
a mesma peça
de que geralmente sou apenas cenário.
eu sou o imo em cujo regaço
o sonho se congeminou
e sou feliz no momento do voo
como a mãe de um pássaro
que vê o filho capaz de largar o ninho
para com ela se elevar no céu,
fundindo-se no horizonte
livre, absoluto, brilhante!
assim vou quando um sonho acontece.
e se o sonho ansiado gorou
noutro lugar de mim reconstruo
a plateia, a cortina e o palco
e a concepção recomeço,
do prólogo ao último acto.