CARNAVAL NO RIO.
Já ouço a bateria
O repique
O tamborim
E tuntun paticumbum...
Eu gosto do som sensual
Da cuíca...
A cadência marcada
Ao som de um apito
Que se impõe
Na algazarra organizada do samba.
O suor já descendo `
Pelas costas da passista
E que ancas...
Num remelexo
Que meu queixo...
Já já ficam prontas as fantasias
Num imaginário de artesão
Numa arte popular
De muita técnica e precisão.
No camarote,
A elite de sempre
Olhando o povo de cima
E se dizendo contagiada pela sua alegria.
Rolando espumante e cerveja
Mulher pelada e camisinha
Alguma droga qualquer...
Na arquibancada, a multidão
Desamparada como sempre
Gritando por ambulante com o seu isopor
Cadê a minha gelada?
Churrasquinho de gato no prato
Farofa e cerveja
Num suadouro comunitário
Sentindo o batuque da bateria.
Meses de economia pra comprar o ingresso.
Um sacríficio injusto
Pelo justo divertimento...
Na apoteose,
O fim desta overdose de festa
Da carne do meu povo
Do povo trabalhador
Que vai trabalhar de novo
Juntar dinheiro mais uma vez
Pra entrar na fila sob o sol
De quarenta graus do Rio
Comprando o ingresso
Do carnaval do ano que vem...
E o money de tudo isso
Vai pra quem?