UM VÔO AO LIVRE ARBÍTRIO
UM VÔO AO LÍVRE ARBÍTRIO
I
Atrás da porta há dor.
Intensa dor que esconde o riso sangreiro,
Enegrece o olhar rutilante
E adia o grito.
Existe culpa na passividade
E a ausência da revolta
Abafa o padecer, que é lágrima.
O molambo, de brilhante disfarçado,
Arrasta o fardo, sem elegância,
Atormentado pela indigna noite
Das luzes banidas.
Um desertor de sonhos,
Cabisbaixo
E curvado ao vergalho torturante,
Sem perceber que o sofrer
Cega-lhe a vida
Mas não lhe destrói o verbo.
II
Serpenteando por entre as palavras
Ele já não estava desolado, tampouco vazio.
Num primeiro instinto lança-se à escrita
Mas é a vingança quem monta sua trama
Por entre o branco das linhas virgens.
E é lá, exatamente,
Que surgem os primeiros raios do Verso
Trazendo em si a inspiração e a poesia
Que quando incorporadas à essência
Da imaginação com liberdade,
Tornam-se a luz da verdade na sabedoria.
III
É o molambo condenado a ser livre.
Lígia Saavedra