no tempo de Elvira Pagã
ontem à noite
um carro sem motorista
passava por nossa rua
jogando versos pela janela
(por que ela,
a rua sem conquista?)
uns pareciam flores,
rosas e seus espinhos,
outros um redemoinho
de idéias espalhafatosas,
pouco convencionais
ou convencionais por demais
mulheres voluptuosas
em orgias só de mulheres
festas de Elvira Pagã
quando acordei de manhã
notei nos garis alegria
disseram com certa ironia
que tinham guardado em seus bolsos
os versos da alegoria
mais interessante da vida
que eles pensavam que fosse
notei que o padeiro não trouxe
o leite engarrafado
como era naquele tempo
no tempo de Elvira Pagã
as coxas mais voluptuosas
que a cor que tem a romã
e logo os garis me mostraram
seus bolsos que estavam vazios
mas eles não se incomodaram
se o carro não viesse mais
Rio, 27/05/2008