TREZENTOS E TRINTA E TRÊS
Não bastam versos é preciso gerar,
abrir a terra com as mãos nuas,
plantar sílabas como sementes
no ventre escuro da madrugada.
O mundo secou de imaginação,
e os homens bebem poeira.
Mas tu, água da chuva e riacho.
Cristalina sim, não da torneira.
Meus 333 textos sejam filhos
nascidos do mesmo fogo:
um para cada fresta da alma,
um para cada sombra que te nega.
Alimentei-os no leite das estrelas,
deixei-os crescer em círculos,
até que o chão onde dormem
vire uma renda de constelações.
Porque o amor, quando é raro,
precisa ser derramado em números,
precisa de raízes explosivas,
de uma praça cheia de ecos.
E se um dia me perguntarem;
-Por que 333? Por que não o silêncio?
Mostra-lhes-ei o jardim de palavras
onde meus filhos brincam,
e responderei :
- Os versos, também tem fome.