MULHER: ALICERCE E VOO

Nasce o dia,

e ela desperta,

como quem molda o barro do tempo

com as mãos invisíveis.

O chão frio acolhe seus passos,

e no silêncio da casa,

ela ergue um império de rotinas

que ninguém verá.

O mundo ainda dorme.

Ela, não.

Entre o vapor do café e o murmúrio da manhã,

seus dedos costuram o cotidiano:

uma costureira de horas,

uma arquiteta de instantes.

Cada gesto, um fio que sustenta o tecido da vida.

E então, a tarde pesa.

O sol declina,

e com ele, a mulher se dobra,

mas não se quebra.

Ela guarda o cansaço nos olhos,

mas carrega o universo nos ombros.

É o peso do real,

mas também o brilho do impossível.

Quando a noite chega,

o espelho sussurra segredos.

Ela é mais do que parece.

A pele que o dia marcou

se ilumina ao toque do crepúsculo.

Ela dança — sim, dança —

mesmo que só dentro de si,

e se transforma.

Não espera por resgates,

não busca permissão.

Ela é rainha em reinos próprios,

guerreira de batalhas invisíveis,

poeta de versos guardados no peito.

Ela é tudo o que quiser ser,

e isso basta.

Ser mulher é transitar,

entre o chão e o céu,

entre o ferro e a brisa.

É ser ponte e abismo,

faísca e incêndio,

uma chama que não se apaga

mesmo quando o mundo sopra contra.

E no fim, quando a noite engole o dia,

ela ainda está inteira.

Não fatiada em papéis menores,

não reduzida a moldes que não a cabem.

Ela é alicerce e voo,

um coração que pulsa além das horas.

No silêncio, ela sorri.

Pois ser mulher é isso:

construir-se inteira,

mesmo em um mundo que insiste em desmontá-la.

Sezar Kosta
Enviado por Sezar Kosta em 08/03/2025
Código do texto: T8281032
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2025. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.