MULHER: ALICERCE E VOO
Nasce o dia,
e ela desperta,
como quem molda o barro do tempo
com as mãos invisíveis.
O chão frio acolhe seus passos,
e no silêncio da casa,
ela ergue um império de rotinas
que ninguém verá.
O mundo ainda dorme.
Ela, não.
Entre o vapor do café e o murmúrio da manhã,
seus dedos costuram o cotidiano:
uma costureira de horas,
uma arquiteta de instantes.
Cada gesto, um fio que sustenta o tecido da vida.
E então, a tarde pesa.
O sol declina,
e com ele, a mulher se dobra,
mas não se quebra.
Ela guarda o cansaço nos olhos,
mas carrega o universo nos ombros.
É o peso do real,
mas também o brilho do impossível.
Quando a noite chega,
o espelho sussurra segredos.
Ela é mais do que parece.
A pele que o dia marcou
se ilumina ao toque do crepúsculo.
Ela dança — sim, dança —
mesmo que só dentro de si,
e se transforma.
Não espera por resgates,
não busca permissão.
Ela é rainha em reinos próprios,
guerreira de batalhas invisíveis,
poeta de versos guardados no peito.
Ela é tudo o que quiser ser,
e isso basta.
Ser mulher é transitar,
entre o chão e o céu,
entre o ferro e a brisa.
É ser ponte e abismo,
faísca e incêndio,
uma chama que não se apaga
mesmo quando o mundo sopra contra.
E no fim, quando a noite engole o dia,
ela ainda está inteira.
Não fatiada em papéis menores,
não reduzida a moldes que não a cabem.
Ela é alicerce e voo,
um coração que pulsa além das horas.
No silêncio, ela sorri.
Pois ser mulher é isso:
construir-se inteira,
mesmo em um mundo que insiste em desmontá-la.