Aniversário: O sentido do tempo e da existência

Hoje, o tempo se desfaz em fragmentos,

como um espelho quebrado que reflete a eternidade.

O que é o aniversário senão a marca nos ventos,

a linha invisível que desenha a nossa saudade?

Se soubesse o coração que a cada ano envelhece

que sua juventude é apenas um reflexo incerto,

talvez dançasse, em silêncio, sobre a neve que desaparece,

ou se afundasse no abismo, onde o tempo é deserto.

Mas o dia nasce, e o homem, em seu passo lento,

contempla a vida com os olhos do desconhecido.

Nada é mais velho do que a juventude no pensamento,

pois é sempre jovem quem em si é perdido.

Quantos aniversários, quantos ecos dispersos,

nos quais o ser se mede em números e em espaços,

mas o que é o tempo senão o vestígio disperso

de um sonho que nunca se fez em mil pedaços?

Hoje, em algum lugar entre o riso e o esquecimento,

celebro, não o dia que passa, mas o ser que se reiventa.

E no vinho do silêncio, onde se dissolve o lamento,

percebo que sou o que fui, o que serei, a dor que me assenta.

Se o aniversário for uma porta para o infinito,

prefiro caminhar ao lado das sombras que me vêem,

pois é no escuro que a alma se faz mais bonita,

e no vazio que o homem, em segredo, se refaz e renasce.

Mas se o aniversário é apenas um gesto perdido,

uma folha caída no solo da realidade,

então sou o instante, o breve e o não vivido,

e nele, vivo a eternidade de minha própria saudade.

Porque cada ano é um pedaço do tempo que se esvai,

e eu sou os milhões de grãos de areia que nunca cessam.

Hoje, o aniversário é o que em mim se faz e se desfaz,

e ao fim de cada ciclo, sou mais vazio e mais repleto,

mais instante e mais abismo.

Gustavo Salesse
Enviado por Gustavo Salesse em 20/01/2025
Código do texto: T8245362
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