Aniversário: O sentido do tempo e da existência
Hoje, o tempo se desfaz em fragmentos,
como um espelho quebrado que reflete a eternidade.
O que é o aniversário senão a marca nos ventos,
a linha invisível que desenha a nossa saudade?
Se soubesse o coração que a cada ano envelhece
que sua juventude é apenas um reflexo incerto,
talvez dançasse, em silêncio, sobre a neve que desaparece,
ou se afundasse no abismo, onde o tempo é deserto.
Mas o dia nasce, e o homem, em seu passo lento,
contempla a vida com os olhos do desconhecido.
Nada é mais velho do que a juventude no pensamento,
pois é sempre jovem quem em si é perdido.
Quantos aniversários, quantos ecos dispersos,
nos quais o ser se mede em números e em espaços,
mas o que é o tempo senão o vestígio disperso
de um sonho que nunca se fez em mil pedaços?
Hoje, em algum lugar entre o riso e o esquecimento,
celebro, não o dia que passa, mas o ser que se reiventa.
E no vinho do silêncio, onde se dissolve o lamento,
percebo que sou o que fui, o que serei, a dor que me assenta.
Se o aniversário for uma porta para o infinito,
prefiro caminhar ao lado das sombras que me vêem,
pois é no escuro que a alma se faz mais bonita,
e no vazio que o homem, em segredo, se refaz e renasce.
Mas se o aniversário é apenas um gesto perdido,
uma folha caída no solo da realidade,
então sou o instante, o breve e o não vivido,
e nele, vivo a eternidade de minha própria saudade.
Porque cada ano é um pedaço do tempo que se esvai,
e eu sou os milhões de grãos de areia que nunca cessam.
Hoje, o aniversário é o que em mim se faz e se desfaz,
e ao fim de cada ciclo, sou mais vazio e mais repleto,
mais instante e mais abismo.