Chico Buarque, O MEU AMOR
Quando da VIDA – minha vida – eu nada sabia,
Era um PIVETE, um “O MEU GURI”, mas já SEM FANTASIA,
Ser em CONSTRUÇÃO, com menos de DOZE ANOS,
Ele foi meu ACALANTO, com TODO O SENTIMENTO.
Com LÁBIA própria de um bom CARIOCA, fez BARAFUNDA:
MEU CARO AMIGO, disse, VAI TRABALHAR, VAGABUNDO!
TROCANDO EM MIÚDOS, falou PELAS TABELAS, na RODA-VIVA, ATÉ O FIM,
Sem beber do CÁLICE, sem temer o cale-se.
Pois um PIANO NA MANGUEIRA, ESTAÇÂO DERRADEIRA,
E fez DO MALANDRO, ÓPERA; de CALABAR, um ELOGIO DA TRAIÇÂO.
Colocou a GOTA DÁGUA que faltava na FEIJOADA COMPLETA,
Quando IRACEMA VOOU, de VENETA, por TANTO MAR.
Para falar SOBRE TODAS AS COISAS e DE TODAS AS MANEIRAS,
Precisa de UMA PALAVRA e BASTA UM DIA.
Seja no FUNERAL DE UM LAVRADOR ou para uma MORENA DE ANGOLA,
No SAMBA DO GRANDE AMOR ou num FADO TROPICAL.
Já cantou para A MOÇA DO SONHO – A MAIS BONITA – e para AS MINHAS MENINAS:
Para A RITA, A ROSA, a BÁRBARA, a CECÍLIA, a CAROLINA, a GENI E O ZEPELIN;
Para a JANUÁRIA, a JOANA FRANCESA, a LOLA, a NINA e as MULHERES DE ATENAS;
Para a RENATA MARIA, a TERESINHA, a ANGÉLICA e a ANA DE AMSTERDAM.
Ora CANTANDO NO TORÓ, ora CANTIGA DE ACORDAR – ATÉ PENSEI:
A VOZ DO DONO E O DONO DA VOZ é um MOTO-CONTÍNUO?
SE EU SOUBESSE, QUERIDO DIÁRIO, numa OUTRA NOITE em OUTROS SONHOS,
Mas SONHOS SONHOS SÃO, JÁ PASSOU e AMANHÃ NINGUÉM SABE...
APESAR DE VOCÊ, direita extremada, toda dor VAI PASSAR num BATICUM.
Fiquei INJURIADO, em DESALENTO, fiz até A PERMUTA DOS SANTOS,
Mas estou DE VOLTA AO SAMBA: no MANO A MANO sou DURO NA QUEDA!
Pois – MIL PERDÕES –, NÃO EXISTE PECADO AO SUL DO EQUADOR.
Quando MADALENA FOI PRO MAR numa NOITE DE VERÃO e de LUA CHEIA,
Ele disse: DEIXE A MENINA ir NA ILHA DE LIA, NO BARCO DE ROSA
Cantar UMA CANÇÃO INÉDITA, TIPO UM BAIÃO ou uma VALSA BRASILEIRA,
ROMANCE num SONHO DE UM CARNAVAL de um SUBURBANO CORAÇÃO.
Fazer uma HOMENAGEM AO MALANDRO, IMAGINA, LOGO EU?
Presenteá-lo com ALMANAQUE, COM AÇUCAR E COM AFETO, ou um PEDAÇO DE MIM?
TEMPO E ARTISTA, abençoados sejam, por TANTAS PALAVRAS, por TANTO AMAR;
Evoé, O VELHO FRANCISCO! e digo-lhe: EU TE AMO e DEUS LHE PAGUE.
* Todas as palavras em letras maiúsculas referem-se à músicas de Chico Buarque de Hollanda.