A gênese segundo o trabalhador
A gênese segundo o trabalhador
Deus criou o mundo
Como uma gema bruta
E tudo o que podia
Em sete dias de labuta:
Os mares a perder de vista
Para deleite das baleias
Os rios sangrando das montanhas
Para banharem as sereias
Os desertos cobertos de areia macia
Para descanso do sol ardente
As noites estreladas para a lua
lisonjearem ao sol poente
As florestas verdejantes
E as gotas de orvalhos
Para escorregarem de madrugada
Pelos seus esgalhos
- Como se cada folha
De cada árvore da floresta
Fosse um parque de diversão
Das lágrimas da noite em festa -
Os passarinhos para entoarem
As sinfonias matutinas
As borboletas para enfeitarem
As flores das campinas
E tudo isto entregou
O Deus, nosso Senhor,
Casto como folha inculta
Ao primeiro filho, o trabalhador
(Deus, no auge da criação,
precisou de operários,
Criando Adão e Eva,
Os primeiros estagiários)
Para aprimorar a sua obra
Como lhe aprouvesse.
Desde então, a obra Deus,
Só cresce só floresce
Pelas mãos calejadas
De homens perseverantes
Ou pelo suor delicado
De mulheres brilhantes
Senão por Deus,
Depois da gênese odisseia,
Tudo que existe,
Desde a ínfima ideia
Ao projeto mais sofisticado
E à invenção mais genuína
É obra do trabalhador
Pela inspiração Divina:
As casas onde moramos
As ruas, os arranha-céus
A eletricidade, o celular.
Os aviões cortando o céu
Os foguetes indo à lua
Os satélites no espaço celeste
Os alimentos postos à mesa
A internet, as nossas vestes,
O bisturi à mão do dentista
O choro do violino
A flagrância do perfume
E o cheiro do café matutino
Tudo é obra de Deus
Realizada pelo trabalhador
Por isto, se não forem a imagem
E semelhança do Criador
Essas criaturas anônimas
Que lotam os vagões do metrô
E têm a ver com tudo na vida,
São dele, na terra, o Administrador.
Parabéns aos heróis e heroínas que tornam o mundo mais habitável e a vida mais agradável.
Evany, 1º de maio de 2024