Festa da carne
O brilho, as luzes, a vibração
No ar, de pessoas estranhas
Entre si e para o mundo, que
Porquanto se encontram, se
Fazem, se festejam, se cantam.
Unidas por um dia, uma noite,
Um brado de alegria, uma saudosa
Pintura de corpos que se aproximam,
Se conhecem, se intimidam. De pessoas
Que perdem, que choram, que se fingem
Bem. Que buscam, em tal quadro
Belo, algo de especial que se
Lhes falta, não lhes é prometido.
Pessoas que perdem, se perdem,
Tentando se encontrar, em uma noite
Fria, talvez chuvosa; noite
De brilho, de luzes, de vibração.
Gente que se perde o ano inteiro
E encontra, em Fevereiro, a chance
De se achar. Gente que busca
Encontrar aquilo que, de sua alma
Vazia, sente falta em Dezembro.
Gente que perde, gente que repete
E se repete na esperança de se
Gostar. Mas as vezes tem, também,
Gente que acha gente; gente que
Sente, diferente, com intenção
De que daquele quadro, quente,
Pintura insolente possa, enfim,
Gerar algo que à alma alente,
Ao coração esquente, em outras
Noites frias e faça, por fim,
Brilhar.