EU NÃO VOU AO MEU ENTERRO

Eu não vou ao meu enterro

Prá não ver murchar as flores

Não ver os meus inimigos

Misturando-se às cores

Que aqueles que são amigos

Foram lá me ofertar

Vermelhas e amarelas

Perfumadas e tão belas

Como eu, só vão secar...

Eu não vou ao meu enterro

Porque eu quero evitar

Aquela roupa apertada

De madeira envernizada

Sufocando o peito meu

Lugar escuro igual breu

Vermes chegando a correr

Os meus restos corroer

Na morte que ocorreu

Eu não vou ao meu enterro

Porque eu quero fugir

Do sono eterno a dormir

Da maquiagem errada

Do rumor na madrugada

Falando do que eu fiz

Eu não morri porque quis

Simplesmente fui levada

E agora na calçada

Lembro o sabor dos caquis.

Eu não vou ao meu enterro

Para não ver o coveiro

Desleixado, trambiqueiro

Guardando coisas em vão

Inda dói-me o coração

Vendo desnudar o manto

De alguém que nunca foi santo

A morte veio e levou

Triste, eu choro num canto

No meu enterro eu não vou.

Cigana das Rosas
Enviado por Cigana das Rosas em 02/11/2021
Reeditado em 07/11/2021
Código do texto: T7377265
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