EU NÃO VOU AO MEU ENTERRO
Eu não vou ao meu enterro
Prá não ver murchar as flores
Não ver os meus inimigos
Misturando-se às cores
Que aqueles que são amigos
Foram lá me ofertar
Vermelhas e amarelas
Perfumadas e tão belas
Como eu, só vão secar...
Eu não vou ao meu enterro
Porque eu quero evitar
Aquela roupa apertada
De madeira envernizada
Sufocando o peito meu
Lugar escuro igual breu
Vermes chegando a correr
Os meus restos corroer
Na morte que ocorreu
Eu não vou ao meu enterro
Porque eu quero fugir
Do sono eterno a dormir
Da maquiagem errada
Do rumor na madrugada
Falando do que eu fiz
Eu não morri porque quis
Simplesmente fui levada
E agora na calçada
Lembro o sabor dos caquis.
Eu não vou ao meu enterro
Para não ver o coveiro
Desleixado, trambiqueiro
Guardando coisas em vão
Inda dói-me o coração
Vendo desnudar o manto
De alguém que nunca foi santo
A morte veio e levou
Triste, eu choro num canto
No meu enterro eu não vou.