Manhã de natal

Ainda tenho na retina da memória

aqueles raios de sol incrivelmente fortes e límpidos

adentrando por um vitro da porta do quarto, em forma de losango.

Minha expectativa, ansiosa, havia acabado.

Era Natal!

Aquela luz imensa, que me acordara

trazia junto uma entidade oculta

que não tenho bem certeza se ainda acreditava em Papai Noel.

A crença no velhinho acaba em nossa mente...

quando a inocência vai embora de nosso coração.

Logo levantei da cama

sabia que seria um dos dias mais longos da minha vida...

Tentei fazer de tudo pra me agradar.

Nada dava certo!

Olhava aquela arvore no canto da sala, cravada num balde com areia

forrado com papel celofane.

Minha agonia só aumentava

entrei mil vezes naquela sala e nada...

À tarde, começaram os preparativos delongados pelas horas.

Nem lembro qual eram as “guluzeimisses”...

o bom é que o sol caíra!

E por encanto, surgiram do nada, vários pacotes embrulhados em baixo da arvore...

O que seria aqueles presentes? Papai Noel os deixou? Ou aquela entidade que me acordara pela manhã havia voltado ocupada.

Chegaram meus primos com meus avós para ceiarem conosco

meus olhos cristalizaram-se no presente que ganharam

uma “caloi 10”!

Passavam várias vezes na descida da rua

acenado pra mim

eram maravilhosas aquelas bicicletas!

Sentei-me no degrau da porta

pareciam que os fogos de artifício que iluminavam a rua

eram soltos para eles passarem...

Ao chegar os ponteiros perto do número doze do relógio

recebi um pacote que cabia nas minhas mãos

abri com pouco orgulho

surgiu do pacote um tanque de guerra, que fazia barulho!

disse obrigado... e fui brincar num canto da sala

antes dos ponteiros se juntarem no número doze adormeci.

Em meu sonho veio um anjo brincar comigo

no meio da brincadeira ele disse:

Pobre criança rica

não te consolo pelo que não ganhas-te.

O valor do presente não é o tamanho

nem a beleza que contenta nosso coração

e sim o valor que damos às coisas que nos brindam

independentemente de sua utilidade!

Não tens ainda, tamanho para subir em uma bicicleta

mas cultivando ainda a inocência em teu coração

que a muito os adultos esqueceram

já tens um grande caminho a trilhar

com o seu tanque de guerra que faz barulho!

Ao acordar com aquele sol radiante iluminando-me de novo

corri até a sala e lá estava meu triciclo a minha espera

passei o dia inteiro descendo a rua

iluminado pelos raios solares

a contemplarem minha felicidade.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 19/11/2005
Reeditado em 23/01/2011
Código do texto: T73729