Sou mulher
Nem tudo é carne e osso
Sou feita também de medo
Nem tudo é o fundo do poço
Ou baú de segredos
Sou modelada de batalhas
Um punho que não se inlinha
Sou voz com falhas
Um filhote que não se amufinha
Sou um brado presente
Uma jurema bem braba
Sou a coragem do ausente
Uma alegria doada
Sou som de gargalhadas
Cheia de dentes
Mil conversas fiadas
A mastigar as correntes
Sou feito trincheira
Uma vela derretida
Um perfume que cheira
Inspirada na vida
Sou feita de lua
Ou da luz do lampião
Sou admiração tua
Sou batida de coração
Sou caminho na vereda
Uma raiz de algaroba
Sou bicho de seda
Tecendo uma obra
Sou corpo lajeado
De camada infindada
Sou cipó tatuado
E pele marcada
Sou espinhos de maxixe
Um olho que nunca seca
O adeus que não existe
Um olhar que afeta
Sou palavra que não se leu
Turbulência em reflexo
De uma história que não se escreveu
De gênero, feminino e sexo