Mensagem de Aniversário 13 Autobiográfica de Valdir Loureiro

Poema com 17 estrofes

1) Nascido à luz do Sol

Quando o relógio marcou

zero hora desta noite,

o Sol me falou: “Acoite

seu legado que ficou.

O milagre que o gerou

tem louvor do Universo.

Comemore a data em verso,

com brilho, graça e beleza.

Tome a bênção à Natureza,

que lhe deu o 'sopro da vida'.

Você é alma nascida —

à luz da Quinta Grandeza".

* não é ponto pacífico, mas diz-se que o Sol é uma estrela de Quinta Grandeza.

Eu nasci no dia 12 de outubro, ao meio-dia.

2) Partículas do meu ser

Não sei bem como fazer

para me homenagear.

Vou autobiografar

partículas do meu viver

e do meu jeito de ser

com muita simplicidade.

Vivo com tanta humildade

que alguém acha humilhação;

é da minha criação:

sou um cordeiro calado;

ao rebanho, dedicado

com amor e mansidão.

3) Doze de Outubro

Hoje é o meu aniversário.

Eu nem estava lembrado,

mas fui por mim alertado

quando olhei o calendário.

Não vou mudar vestuário

nem a rotina maçante.

Sou um aniversariante

mais simples que os demais:

sem retoques visuais

nem a questão do presente;

sou vaidoso simplesmente

com as "pedras filosofais".

4) Umas duas vaidades

Filósofo, sei que não sou;

muito menos, alquimista.

Mas quero ser um aforista

de agora e do que passou:

observo o que restou

por meio da entrelinha.

E outra vaidade minha,

Salomão, talvez, soubesse:

era que eu também fizesse

os Cânticos que ele fazia².

E hoje aniversaria

"quem assim se envaidece".

5) Uns três devaneios

Ah! se eu tivesse nascido

"um homem que sempre guarda"!

"uma eminência parda”!

"um herói desconhecido"!

pois teria concebido

estas três vias de fato:

seria um provedor nato,

moderador de poder;

guerra que eu fosse vencer

não tinha publicidade;

somente na intimidade,

alguém podia saber.

6) Límpidas águas

Não senti mais a fraqueza

que, no domingo, implodia:

enquanto a tarde caía,

eu tombava de tristeza.

Bebi água em correnteza

mais pura que da Aldeota¹.

Para eu mesmo dar a cota

de ajuda à minha pessoa,

meu pensamento é "lagoa,

afogando banzo² e mágoas";

dei ao corpo límpidas águas

que só vêm de fonte boa.

¹ "aldeota" refere-se aos índios que saíram do Rio Ceará para a fonte do Riacho Pajeú.

² banzo é um sentimento de nostalgia.

7) Comemorações do Dia

Doze de Outubro é o Dia

da Santa Aparecida¹;

da América conhecida:

Américo a descobria².

Pavarotti já nascia

nesse mesmo dia meu.

Dom Pedro* também nasceu

no dia em que eu fui nascer.

Só falta agora dizer —

depois de tanta lembrança,

que hoje é o Dia da Criança,

mais difícil de esquecer.

¹ Nossa Senhora de Aparecida, Padroeira do Brasil.

² Américo Vespúcio descobriu a América em 1492.

³ Luciano Pavarotti, tenor italiano.

* Dom Pedro I.

8) Paz com autocontrole

Eu tolero a sociedade

com a sua intransigência,

que os anjos de paciência

trazem paz à Humanidade.

Aprendi a faculdade

de manter a compostura.

Concluí a formatura

que me ensinou a viver

com a calma de sofrer

para depois desfrutar.

Quero agora me formar

"na arte de não morrer”*.

* Relação com estrofe 13) Jardim perenal.

9) Uma bem-aventurança

Se eu quiser inaugurar

as obras que realizei,

tenho a bênção que ganhei

para me abrilhantar.

Passei a vida a juntar

tesouro para o Presente;

vou ser mais Futuramente

feliz com fé e esperança.

Depois de ser "a criança

que a luz do Céu deu ao Mundo",

recebi reino fecundo

com essa bem-aventurança.

10) Divinos Pais

Aos meus pais, eu agradeço

por terem-me dado a vida

com a criação garantida —

graças à qual me enalteço.

O amor deles* não tem preço

porque deram tudo aos filhos,

tirando espinho e empecilhos

dos caminhos e dos planos.

Não importa quantos anos

eu tiver de existência:

faço aos meus pais reverência

como deuses soberanos!

* Nesse caso, o certo é "O seu amor"; a forma "O amor deles" foi usada para dar mais clareza ao verso.

11) Uns oito amigos diletos

Aos meus diletos amigos,

tenho apreço e gratidão.

Três não sabem que já são

“matérias dos meus artigos”¹.

Outros dois são como trigos

que valem por um celeiro;

têm mais valor que dinheiro:

são joias, pérolas humanas.

Três são plataformas planas,

podendo me suportar.

São oito que eu posso achar

nas lides cotidianas.

¹ na verdade, são poemas onde acrescento alusão à figura de um amigo, revelando ou não, o seu nome.

² A incidência da consoante p nos dois versos acima foi uma aliteração inevitável e não tem propósito estilístico.

12) "Oito e oitenta"

Mais ou menos oito são

os amigos que me prezam.

Com o tempo, eles se revezam;

ou vem substituição:

privo com a estimação

do novo que se congrega.

Algum já foi meu colega

e outro tem laços maiores;

um deles têm os decores¹.

Vão mudando em marcha lenta...

"Representando uns oitenta,

são esses oito os melhores²."

¹ decore – Declaração Comprobatória de Rendimentos (emitida por um profissional de contabilidade).

² Por coincidência, vão se mantendo "dez por cento"; é um número simbólico para dizer que tenho raros amigos diletos ou que sou muito seletivo na amizade.

II Outras estrofes

13) Jardim perenal

Nasci da "árvore do Amor",

de um sêmen que floresceu.

Virei semente sem cor

que a "mão da Vida" colheu.

E sinto o cheiro da flor —

o mais puro e ativo olor*

de um jardim que não morreu.

* olor: cheiro suave e agradável.

14) Ter ou não ter, mas ter..

O bem ou o mal que tenho

ou digo que seja meu

é do Mundo de onde venho

ou do Gênio que me deu.

Mas, quando eu os empenho,

com talento ou sem engenho,

o responsável sou eu.

15) Nem mal, nem bem, mas feliz

Parodiando Machado de Assis:

Eu não vou bem nem vou mal,

como diria Machado

de Assis, bem-humorado

ou crítico sempre atual.

Por essa base dual

que faz parte do Universo,

sou feliz e tergiverso —

"não passo por mal maior";

“dos males, quero o menor”:

coerente e controverso.

Semente e planta

16) Semente vegetal

Quero a vida natural,

marcha lenta e gradual,

sem passar por hospital,

dizendo que estou doente;

resistir à dor e tédio,

sem tomar nenhum remédio,

sem a queixa do Intermédio

e viver como a semente.

17) Pé de cedro em contrapé

Viver não é bem assim:

fácil como estou pensando.

Vou ter de ficar passando

por bom médico e pelo ruim¹.

Quando se largar de mim

a folha verde e cadente,

entro na fila doente;

e em vez de cair, eu medro²;

fico de pé como o cedro

para ser nova semente.

¹A pronúncia certa é ru-im (com duas sílabas morfológicas), mas, no verso acima, fica "ruim" (uma sílaba métrica).

²medro do verbo medrar: crescer, florescer.

ÍNDICE RECAPITULATIVO

I Estrofes bárbaras com 12 versos

1) Nascido à luz do Sol

2) Partículas do meu ser

3) Doze de Outubro

4) Umas duas vaidades

5) Uns três devaneios

6) Límpidas águas

7) Comemorações do Dia

8) Paz com autocontrole

9) Uma bem-aventurança

10) Divinos Pais

11) Uns oito amigos diletos

12) "Oito e oitenta"

II Outras estrofes

13) Jardim perenal

14) Ter ou não ter, mas ter

15) Nem mal, nem bem, mas feliz

Semente e planta

16) Semente vegetal

17) Pé de cedro em contrapé