TRAVESSIA
TRAVESSIA
Wilton Porto
As lágrimas que não se ousaram,
porque o desabafo ficou preso numa máscara.
Num mar de águas profundas lhe se inundaram,
que das lembranças apenas as frases doces, não raras.
Se a dor cruenta foi pontiaguda unha do anjo sem luz,
a espada ardente, do templário Miguel, foi raio invisível, presença dos Céus.
E se apesar do embate, na última morada, vê-se cruz e mais cruz.
É porque ainda, a fé é tão ínfima, que um murro é mais do que Deus.
O embalde respiro, num ego estufado,
fora metralhadora sem rumo, cano voltado para si.
Escolher pão duro, sem manteiga, tendo no armário: pão quente, queijo fresco, suco de caqui.
É se deixar aquecer no frio exemplo de uma ideologia de um comando mal fadado.
O agônido turbilhão de malfazejos espectros fora encostado, numa mala, num canto qualquer, antes do portal aberto.
Travessia.
O olhar tão fúlgido teima na viagem, refletindo o horizonte aberto.
Toda conquista tem o desafio incolor do desbravar o nariz empinado do aoristo.
E do passado, os enfrentamentos horripilentos deixaram o nosso ser deserto.
Haveremos de refazer os nossos ideais, na eclosão sublime das possibilidades do infinito.
Nossas mãos já não se prendem ao ambíguo das opções sobre o tapete.
Somos o somatório do cônscio saber de que não somos sós.
Unindo saberes - inspirações do Alto - planejadamente, iremos além do que nos compete.
O novo só é temerário, obscuro, quando achamos que além de nós, não há uma outra iluminada e determinante Voz.