O espelho do meu eu
Nos últimos tempos tenho pensado em demasia.
Na coexistência de dois seres discordantes.
Vivendo em mim quase sempre inconstantes.
Não tendo pois nem um e nem outro primazia.
Um desses seres bem eclético e diletante.
Sempre informado, engajado e produtivo.
E sendo o outro inseguro, intimista e emotivo.
Travando juntos uma batalha equidistante.
De um lado, um eu forte, corajoso e hodierno.
E do outro, o fraco eu, todo covarde e ultrapassado.
Como equilibrar esses dois eus que em mim alterno?
Sem exaltar o ego, nem o fazer de fracassado.
Foi pensando nessa coexistência dos meus eus.
Que fiz o esforço para me entender, não obstante
Não consigo, pois são diferentes mas são meus.
Essa é uma guerra de um egoísmo exorbitante.
Devo vestir-me então e por-me diante do espelho,
E lá fitar-me longas horas, com a mente desvairada.
Para capturar a minha imagem refletida no aparelho,
E assim sorvê-la fielmente para me ver totalizada.
Se não me bastasse, não saber quem sou de fato.
Devo precisar do olhar do outro aguçado a me dizer.
Tal qual fez "Jacobina" ali, eu também me idolatro.
Perante o espelho pra tentar, emfim me compreender.
Juntando o meu eu original ao eu simplório.
Ao meu fiel aspecto refletido ali no espelho.
O olhar do outro dá-me então seu relatório.
Ao qual me curvo e com humildade me ajoelho.
Para ser eu não é possível que me baste?
O sou também tudo que o outro me atribui?
Se essa ilusão por alguma razão, de mim se afaste,
Faltar-me-ei no que ainda serei ou no que já fui?
Para entender tudo o que eu estou aqui dizendo.
Desse modo reservado e até bem pouco usual.
Façam a leitura do conto que outro dia estive lendo.
Falo de "O espelho" de Machado de Assis. O imortal.
Esse gigante da Academia de Literatura Brasileira .
Em 29 de setembro, será pra sempre relembrado.
Homenageado no país e também no mundo inteiro.
O escritor negro que teve o seu nome consagrado.
Escreveu de tudo que lhe aguçou a real vontade.
E nesse conto traz um tema que pra mim é crucial.
Pois ajuda a entender o que compõe a identidade.
A junção do eu que é interno ao eu que é social.
Adriribeiro/@adri.poesias