anos noventa - quem aguenta

cidadezinha filha da fruta

que comem teus filhos

nos tempos poetas te exaltam

mas agora só te podem esculachar

não te reconheço, pródiga

já que és centenária adolescente

não direi dos encantos que escorrem pelos cantos

teu semblante agora me deixa assombrado

não quero rimar, filha da luta,

teus rios com tuas lendas

não quero, filha enxuta,

caboclos poetar com baixios

nem quero cadenciar teus sentidos

amarelados pela pretensa ilusão de tua honra -

quimeras... merda!

és panema...? estás anêmica...

tua cara fede - paraíso de urubus

em teu ventre em plena noite errada

latejam vermes, derramando tintos

tintos que desgraçam tua aurora

cidadezinha, filha da natura, bruta

tua idade, já falei, ainda nem é média

mas faz média social

teus filhos loucos pedem fogo em protestos

uma história tua, crua se enreda

hipócrita... e (em) minha escrita se perde

não quero ouvir nada de altaneiro - berreiro

não quero ver o que não se tem - também

não quero a maravilha sem motivo -

não vivo de berro e para tua cabeça não digo amém

acorda que quero teu recomeço feliz

cidadezinha filha da murta

não encha de vergonha o céu marajoara

por tua infame mobília, por teus pés descalços, por teu peito sem graça

(...)

cidadezinha filha da ... poxa!

nem quero de ti mal falar

tenho é muita saudade, e revolta

mostra-me o que te abafa nos recônditos

mostra-me os abcessos que te proliferam

(...)

toma teu bolo de aniversário

ri-te de mim que não te canto, torto mandarim

pois no canto fico rezando pela tua morte definida

e para a fênix que chora

pedirei por tuas feridas

cidadezinha, minha minha

ah que te quero querida e bem amada

para os teus filhos também sorrir...

(...)