Á MEMÓRIA DO POETA JOSÉ GOMES FERREIRA
Nas asas do vento, a lua chora,
No ventre da madrugada, o dia
Adormece na cama da ternura,
E tu oh Poeta por excelência,
Fazes a voz do mar a pensar.
Tu escreves a vida na esperânça,
Com os teus poemas a nossa liberdade.
Que a censura não te dexou
Porque tu és o Mestre ,
Da nossa Poesia Revolucionária.
Com os olhos da noite, procuras,
Dar ao Mundo uma visão dif'rentem
Dar ao Mundo um outro sentido novo,
Á poesia e á nossa bela sociedade.
A tua Poesia de combate.
Nos braços da esperãnça de viver,
Como nas tranças duma vida nova.
Tu és o Maior, tu és o artista,
Que a palavra te floresça...
Que ps teus versos sejam a arma,
Contra a Burguesia que predomina.
Quem defendem os teus versos
É o nosso Povo de verdade,
A tua Poesia de combate,
Que sejas pelos oprimidos
E que sejas pelos explorados.
Na janela da vida, como vimes de tristeza,
O Poeta grita bem alto com voz rouca.
Em cada esquina um amigo como farrapos.
de miséria, uma flor dança ao som do mar,
Como árvores de cimento, pela tarde louca,
E uma guitarra canta devagar como uma água
Que desagua em delta. Na barriga da serra,
em que o Che lutou pela sua liberdade,
E o sol arde, como mãos de jaspe em florim.
Nas portas do futuro, o céu está feliz,
E um rio berra pra se acabar co'a guerra,
Enquanto o sonho cresce nas mãos dum poeta,
Pedá-las nos corpos dum tal reacionário,
Que matou a tiro o Militão Ribeiro,
Co'as mãos assassinas , como Catarina Eufêmea
Que pedia trabalho e pão para comer
E a PIDE Assassina continuou a viver.
Á tarde depois de toda a gente,
se ir embora, tu foste lutar
pelo Mundo Novo
E acabastes co'a ditadura,
E destes ao nosso Povo
Um novo sentido.~
Como o sol beija a terra,
E a nossa Revolução,
Ainda não se fez,
Amar é ainda proibido
Amar o nosso Povo Português.
LUÍS COSTA
15/10/99