SUBTILEZA E SABEDORIA
«Os ilustríssimos e reverendíssimos senhores cardeais
Precisam todos duma ilustríssima e reverendíssima reforma…
Vossas senhorias são as fontes donde todos os prelados bebem;
Necessário é, portanto, que a água seja limpa e pura.»
Dom Frei Bartolomeu dos Mártires,
No Concílio de Trento
Eis aqui o discurso sábio que se impunha
Aos doutos Maiorais da Agremiação Romana
Que eram vezeiros de triste vanglória insana
E que não toleravam a incómoda testemunha.
Foi esta Voz que no Concílio se elevou,
Foi esta Voz que deu a vida à Profecia
Na hora exacta da estouvada desarmonia,
E que no coração dos homens germinou.
Bartolomeu lançou o arado em terra ruim –
Repleta de agrestes espinhos sanguinosos –
Co´ a subtileza de argumentos generosos
Recolhendo, da parte deles, um dúbio sim.
Um “sim” que, lá no fundo, seria apenas Não.
Um Não ao bem-estar e aos fartos privilégios
Que, para eles, eram a alma dos sortilégios
E do conforto perene da sua condição…
Eles bebiam, sim, daquela água impura
Que nos meandros da Vaticana borbulhava,
Naquela sede qu´ aos Prelados saciava
E que Bartolomeu denunciou como obscura…
Abriu-se ao Santo Frei uma subtileza clara
Que pôs a olho nu o clerical mistério
Rasgando a máscara, com sábio critério
Numa distinta Mente de inteligência rara.
Nasceu assim todo o acervo sapiencial,
Por Decretos e Leis pra uma Igreja Nova,
De que os talentos originais fizeram prova
À laia prestigiante da conduta Pastoral.
Mas foi preciso traçar Regras e Balizas,
Foi preciso cavar fronteiras e horizontes
Abrindo-se canais pra outras novas fontes
E fixando-se Traves-mestras mais precisas.
Missão cumprida? Não! Urge o evangelizar,
Urge educar e resistir aos detractores
E aos puros saudosistas e reles opositores
Que não queriam os seus interesses renegar.
Perseguições, invejas e retaliações?
Estando ainda longe o rumo da concórdia
Bartolomeu mostrou a Luz da misericórdia
Que fez apaziguar o fogo nos Corações!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA