CONVERSA DE MUDA

Nasci muda!
Ainda recém nascida
fui por vândalos agredida,
ferida covardemente,
sem que tivesse esboçado
qualquer gesto de defesa.
Mas insisti, resisti,
e contra toda expectativa
mantive-me viva.
Cresci, venci, me realizei.
Hoje, coleciono elogios
à minha beleza.
Há sim, lembranças infelizes,
tenho cicatrizes
que causam pena em quem as vê.
Mas ao vestir-me de ouro
para anunciar a primavera
sinto que vale a pena lutar,
buscar o que se quer ser.
E nem me lembro de quando era
tão somente
uma muda de Ipê.