DO PINÁCULO DA PAULISTA

Vi
Resquícios de morte e vida
do pináculo da Paulista
a solidão fugindo de metrô
o amor inventando o artista

Ah, se acontecesse um milagre
as quaresmeiras florissem
flores roxas, verdes, brancas
eu dormisse nessa pista

O formigueiro lá embaixo
ao pé dos arranha-céus
num lance antiecológico
aberto feito o vão do Masp
vão todos para a vida
ali na vasta Paulista

Vão buscar a liberdade
jovens, velhos, nascituros
vai todo o formigueiro
em busca do entendimento
de megafone, e calhamaço
não há homem

há é o amor
faminto como o gavião
Dos olhos fotográficos
sai uma foto exígua

Fotografando o chão, moribundo
do alto da Paulista os amores
são desafetos, skinheads
os bancos abarrotados
as mãos irrequietas vazias de
um paraplégico

Falar de amor
na Paulista
ensaiar todos os amores
vem à cabeça a cama
fica mais encantador
para quem não ama

Vi você no espelho d'água
nua, magra, te amei
te quis mais bonita
como o hexágono da neve
quis ensaiar um soul
não era tão simples assim
Como comer batata frita.
Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 25/01/2019
Reeditado em 25/01/2019
Código do texto: T6558972
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.