Espessura

Há quanto tempo a memória da carne

nos trouxe, magoados, ao espanto?

Havia em ti céu e era limpo

havia tempo por medir,

havia na tua boca, Úlpia, recado intenso.

Quando o monte abriu

e das goelas ignaras da terra escorreu fogo

toda a semente que dormia

à espera de vez se viu, estéril e eterna,

presa porque nenhum campo restou depois das cinzas

porque nenhum corpo se derramou.

E também tu, gentil Víbia, livre que foste,

enches de aroma o vaso que te detém a forma

à espera da rouca voz do mundo

que por Deus ainda clama.

Vesúvio deu ferozes os ares, a pedra e a chama.

Caíste, Pompeia, sem saber que caías

no ardor, na ausência, na eternidade tosca.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 14/10/2018
Reeditado em 14/10/2018
Código do texto: T6475891
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.