POEMA HISTEROSCÓPICO

Enquanto o mundo lá de fora esfria....

Nego toda maquiagem fútil,

Desço do salto

E entro para dentro de mim.

Das minhas entranhas,

Milito a minha

E todas as legítimas formas de se ser.

Vejam:

No nude do meu batom

Pulso todas as cores do mundo!

Mas...

As minhas tatuagens ninguém as vê!

É que dor, coragem e força,

São marcas indeléveis e invisíveis...

Removo todas as montanhas

Dos preconceitos sedimentados

Pela vida empedernida.

Quando o mundo me diz não

Logo me inflamo: verto lavas.

Sangro-lhe o endométrio da vida,

Recolho todos os coágulos dos sonhos

Que não puderam ser,

E então,

Sigo na partenogênese de alma.

Alma de apenas ser

Sem código genético,

Forte espectro amorfo,

Sem corpo

Sem bandeira...

Minha sigla?

O ABC.

O do direito de existir,

Uma vingança legítima.

Depois,

Resisto e coexisto

Em fractais de insistência adubada

Qual semente que brota plena e perfeita

Dum solo árido, adverso ao tudo.

Enquanto o mundo de fora esfria....

Sigo útero,

Vulcão irreverente

A emergir fumaça de mim,

A sangrar à revelia

Na dor de se parir o sangue decíduo

De todas as possibilidades abortadas.

Enquanto o mundo de fora escurece

Sigo útero de coração

Amplo pulso dum vasto mundo interior!

Dou luz de vida a toda possibilidade vital

Inseminada.

Micro fóton que vem de dentro

A iluminar todo o breu!

Qual um milagre quântico

De ainda ser luz.

Enquanto todo o mundo lá de fora esfria...

É para dentro de mim que olho

E me peço permissão para reentrar.

Assim me recolho e me acolho

Já aquecida

A mitigar em posição fetal

A professada trilha

Genuína e legal

Essa de se ser... só um ser Mulher.