ACORDE PARA UMA FOLIA SADIA
Um glíter nos olhos, uma cor nas bochechas, alguns adereços comprados na feirinha da esquina... Coisa de 15 minutos e lá se vai minha menina, em plena sete da manhã curtir a alegria da folia belorizontina de 2017.
Fico olhando e lembrando-me dos tempos idos - anos sessenta... setenta... - vividos de forma ainda mais improvisada. Porém, o entusiasmo, a febre do samba nos pés vejo que continuam do mesmo jeito. Bendita a ordem da Marrom, na canção de Edson Conceição e Aloísio Silva: - "Não deixe o samba morrer". Está sendo cumprida.
Li , aqui, uma poesia do J. Estanislau, onde ele retrata como ninguém o poder que a festa carnavalesca tem: expulsa a tristeza que, em maior ou menor dimensão, todos nós carregamos no peito.
Não acho que o batuque é refúgio, fuga da realidade; ao contrário, acho que, com muita consciência, aguardamos por esse mágico momento, mergulhados em nossas angústias diárias. O vínculo religioso já se perdeu, por desnecessidade - nada melhor para nos ligar a Deus que a alegria de, junto a todos, sentir que há formas - ainda que precárias, temporárias - de se viver livre das dores do dia-a-dia. O convite fica democrática e permanentemente marcado no calendário, e só as pernas aguentarem.
Sei que manhãs assim festivas são raras; por isso é quase imperdoável não aproveitá-las, se ainda existe energia. Espero, no próximo carnaval, poder dizer - além do costumeiro bom dia - um matutino "Bom carnaval, querida!". Escute sua mãe: - dispense confetes e serpentinas, jogue alegria pelos ares, espalhe o samba no chão. Às drogas e ao álcool continue dizendo não.