ELEGIA 2016

Ó povo brasileiro, por onde andará tua alegria

onde os sonhos e esperanças, em qual corcel cavalgam?

És o sustentáculo e a base dessa nação benfazeja

sentes o frio na espinha de um futuro que morre infante.

Teus heróis têm pés de barro, não sustentam um vintém

de altruísmo edulcorado: pirulitos roubados das crianças.

As manhãs são azáfamas de um frenesi sem tamanho,

as noites são os desesperos de barrigas vazias nos leitos.

Trabalhas de sol a sol e sentes o peso do mundo

e sentes a dor do tempo que morre no calendário

e sentes o envelhecimento da derme que se sacrifica

e o outono da vida que chega sem pedir licenças.

Trabalhas acreditando, mas a fé vai-se com a foice

que capina a esperança de teu coração brasileiro.

O país que te venderam quando aqui nascestes ontem

não é hoje o que prometeram e nem amanhã o será.

As riquezas desta terra, em que tudo que se planta dá,

até do subsolo roubaram, não só o ouro que Portugal levou.

É o mal que se instalou, nos escaninhos do poder

e fez brotar do cimento de Brasília, a vil corrupção.

Amas viver e te alegras com o pouco que se te dê;

e exaltas – na própria trama do existir – a cordialidade.

Mas não suportas mais, esta louca insensatez

de uma sórdida bandidagem vestida de colarinho branco.

Brasileiras e brasileiros, que caminham entre os mortos

apodrecidos na mente, no sonho e no coração;

as cadeias serão poucas para ajuntar esta gente

que não merece indulgência, precisa de punição.

Que a ferrugem corroa as grades e corrompa os corpos

dos que mataram com a caneta, por leis ou falta delas

os sonhos de brasileirinhos, a vida de meninos e meninas

a beleza das mulheres, o orgulho dos homens, as cãs dos velhos.

Que todos os miseráveis corruptos, devolvam cada tostão

que desviaram do trabalho, da saúde e da educação.

E experimentem o barro, a lama e a carestia,

a falta de esperança, o dente podre e a apatia.

Que o Brasil confesse agora, que uma geração se perdeu

que tentaram matar nossos sonhos, mas ele não morreu.

Que não se cale a Justiça, mesmo que Brasília exploda:

não é iconoclastia, os políticos é que saíram de moda.