A DEUSA MUSA ADORADA
I
Eu sempre ouvia falar
Que a Deusa Musa existia
E dos céus traz a poesia
Para o poeta cantar
Quando ele rir ou chorar
Seja na paz ou na guerra
Alegra ou entristece a terra
Ela que mora no Olimpo
Lá no azul do céu limpo
Perante Zeus que não erra.
II
Poeta que vive sozinho
Buscando a fria ilusão
Para encher seu coração
Tão carente de carinho
Na sua cama de espinho
Antes do romper da aurora
Chegou aonde a Musa mora
Toda de branca e grinalda
Bordada d’ouro e esmeralda
Para o amado que a adora.
III
Sou um caminhante impuro
Ao lado dos semelhantes
Pecados tenho bastantes
E constatar isso é duro
Mas busco o certo eu juro
E o que serei Deus fará
Quando um dia eu chegar lá
Ao conhecer a verdade
Para estar na eternidade
Com Deusa Musa e Alá.
IV
Fiz penitência em vigílias
Durante mil e uma noites
Sentindo o frio dos açoites
Pelas pedregosas trilhas
Dor das chagas nas virilhas
Nas pedras os pés feridos
Mãos e dedos doloridos
Com minha mente confusa
Invoquei a Deusa Musa
Em suspiros e gemidos.
V
Eis o caminho da arte
Para aquele que tem dom
E se afina bem no tom
Quando canta seu aparte
Sei que fiz a minha parte
Senão de toda perfeita
Mas que deixa satisfeita
Quem me ensinou a ousar
Fazer o meu caminhar
Por esta senda estreita.
VI
Eu que sempre perguntei
Onde é que a Musa mora
Em qual Templo se adora
A Deusa com quem sonhei
Qual é a sua santa lei
Que eu desejo cumprir
Acabei por descobrir
Que ela está ao meu lado
Num abraço apertado
Na manhã do meu porvir.
VII
O carvalho na imponência
Daquele porte augusto
Obriga o pequeno arbusto
A prestar-lhe reverência
Mas a Musa tem consciência
Lá no escuro da caverna
Dama que ninguém governa
É uma Deusa mui discreta
No coração do poeta
Tem sua morada eterna.
VIII
Não quero só para mim
Uma Musa assim tão linda
Que ela seja bem vinda
Aqui em nosso jardim
Pois quando ela dá o sim
Todo poeta se inspira
E do seu bojo retira
Versos lindos no repente
Deusa bela e mui valente
Que o poeta sempre admira.