Coração de mulher (reeditado)
CORAÇÃO DE MULHER
Ao mirar-se no espelho da existência
A mulher não tem dele consciência
Nem com toda sua experiência
Nem com todo o saber da ciência.
Não se assombre, está difícil encontrar.
Ele vive escondido meio camuflado
Absorve a cor do meio em seu estado,
Pisado, amarrado, humilhado, revoltado,
Ainda assim batendo desencontrado
Ele vai exercendo sua função
Independente, anônimo, desenfreado.
A mulher e seu pobre coração.
Sempre tem um pequeno cantinho
Para agasalhar um simples filhinho
Ou um perdido bichinho
Qualquer ser carente de carinho
Quando as guerras consomem vidas
E o fantasma negro da fome
Entorta os lábios já sem nome
E mãos cansadas da dura partida
Choram lágrimas na despedida
Lá está ele calado a suportar
Tantas dores, tantas amargas feridas.
Bálsamo ao longo de nossa vida
Empresta-nos a cor no cinza do caos
Abriga-nos do ódio dos maus
Com a força de seu indestrutível tecido
Liberta-nos com sua razão além do destino
Se todas as mulheres soubessem
Que guardam no peito este tesouro
Mais valoroso que o próprio ouro
Se dúvidas não as tivessem...
Não lhe importariam jamais,
As formas que o espelho devolve
Através da ilusão existe muito mais
Quando o profundo se revolve.
Nos montes de tristeza e dor
Renasce a semente do amor
Nesta gleba mista quase sem cor
Nasce a divina flor do amor.