Poema de aniversário

Quantos forem teus dias

na morada do corpo

com que habitas o mundo

haja em cada um deles

matéria a ocupar tuas mãos

rios e mares tatuados em tua pele

vento e brisa chamando teus ouvidos

cheiro de noites jardinadas

sabores que toquem tua língua,

umidecendo-a de prazer,

e a linha do horizonte

a desafiar teus olhos...

para que tua carne deseje,

teus pés caminhem,

teus sonhos aconteçam,

tua mente trabalhe

e teu espírito possa exceder teu corpo

e voar no movimento maior

da ciranda do universo

da roda da vida,

fora do tempo.

Quantos sejam os teus anos,

não sejam eles

a medida do teu ser,

mas as descobertas que te aguçam

as diferenças que te acrescem

os espamos que te ampliam

os encontros que confirmam

o verso e o anverso da tua pele

além de todas as avalanches que surpreendem a tua estática

e te proporcionam gozo e fruição.

Tanto seja a tua vida

que ela se desapegue

dos giros solares

que sucedem em intervalos

de aniversários,

para que a tua existência

seja uma festa de instantes

e velas constantes

acesas em ti

ou erguidas em alto mar,

donde se possa ver e sentir

penetrantes ondas

de luz e paz.