A MENINA DE TRANÇAS
A menina de tranças
armava seu jogo de pedras
algumas coloridas como bulitas
no lajedo arenoso da lavra.
E para cada pedra escolhida
separava também uma palavra
e depois dela um outro sentido.
E como a pedra, a palavra
era sentida, medida e amada.
Ah! Como amava o seu jogo de palavras.
A menina ali sozinha, desvanecia-se
no horizonte perdido.
A pedra mar se resolvia nas ondas.
A pedra anel, anelos, em conchas anelava-se.
Era azul a cor do céu, lápis-lazúli era a pedra.
Se patos voavam nas alturas
dali batizavam a pedra
e a menina já pensava em revoada.
Ah! Como a imaginação costumeira
da menina, fluía, disparava
como lépido navio trigueiro.
Tramas de renda, de bilro, sem parar ela tecia
sob a tênue sombra da palmeira.
Queria de alguém, muito lindo
ser a namorada
e usava um vestido de névoa
com os brilhos do rio, costurado.
Quando o amor lhe acontecia
dançava de alegre, tão linda ao poente
que, admirado, o próprio sol
observava, enquanto
a hora diletante anoitecia.
A menina ficava sozinha
e tão plena, e dançava tanto
que dançando, trançava e aprendia
o seu lírico destinar
derramando-se em poesia.
Ricardo S. Reis