A MENINA DE TRANÇAS

A menina de tranças

armava seu jogo de pedras

algumas coloridas como bulitas

no lajedo arenoso da lavra.

E para cada pedra escolhida

separava também uma palavra

e depois dela um outro sentido.

E como a pedra, a palavra

era sentida, medida e amada.

Ah! Como amava o seu jogo de palavras.

A menina ali sozinha, desvanecia-se

no horizonte perdido.

A pedra mar se resolvia nas ondas.

A pedra anel, anelos, em conchas anelava-se.

Era azul a cor do céu, lápis-lazúli era a pedra.

Se patos voavam nas alturas

dali batizavam a pedra

e a menina já pensava em revoada.

Ah! Como a imaginação costumeira

da menina, fluía, disparava

como lépido navio trigueiro.

Tramas de renda, de bilro, sem parar ela tecia

sob a tênue sombra da palmeira.

Queria de alguém, muito lindo

ser a namorada

e usava um vestido de névoa

com os brilhos do rio, costurado.

Quando o amor lhe acontecia

dançava de alegre, tão linda ao poente

que, admirado, o próprio sol

observava, enquanto

a hora diletante anoitecia.

A menina ficava sozinha

e tão plena, e dançava tanto

que dançando, trançava e aprendia

o seu lírico destinar

derramando-se em poesia.

Ricardo S. Reis

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 29/06/2007
Reeditado em 04/07/2007
Código do texto: T545710