SESSENTA
Se senta!
Me assento nos sessenta,
Aqui eu tomo assento
Vem vindo novo alento
Que a chama reacende
Quem sabe, pro alto ascende,
Trazendo um outro ritmo
Estabelecendo o istmo
Entre o velho e o novo
Elaborando o ovo
Que a esperança eclode
E mostra que se pode
Trabalhar para a vida
Ser suave avenida
Pra trilhar sem pressa
Por fora da via expressa
Melhor a trilha estradeira
Que termine em cachoeira
Em canto de passarinho
Ou sorriso de netinho.
Me sinto...
Quero tudo sucinto
Que o triste não me entristeça
Que tenha saúde na cabeça
Que os pesos não me pesem
Antes disso, que me levem
Ao lugar do coração
Onde mora a aceitação
Da vida e seus movimentos
De que os caminhos dos ventos
Seguem o seu natural
E nunca me fazem mal
Se deles me torno amigo
Vejo seu rumo e sigo
Com nenhuma resistência
Feliz e com persistência
Fazendo semeaduras
De estações menos duras
Mesmo que não veja a colheita
Virão frutos, quem aceita?
Fico atento
Ponho todo meu intento
Pra ver dentro da alma
Onde ela guarda a calma
Que o mundo louco esconde
Procuro a fruta-de-conde
Do quintal da minha avó
Que o tempo levou sem dó
E aquele poço profundo
Talvez ele guarde no fundo
O silêncio prazenteiro
Que do pensamento é companheiro
Na busca da harmonia
De que, sem saber, eu corria
Pensando que aproveitava
O melhor que a vida dava
Darei paz como oferenda
Sem qualquer valor de venda
A quem pela vida corre
E não vê que ela escorre.