Canto da liberdade
Já raiou a liberdade
no horizonte do Brasil
Tu viste, ele viu e eu vi
o cego do negro não viu!
As negras são escravas
por isso as brancas não se misturam.
Só na surdina da noite
se deve mesclar o branco-alvo
do sinhô à negritude da África,
afinal, as negrinhas fazem feitiço
-são todas feiticeiras!
Só na surdina da noite
se produz mulato bom,
cor de terra nacional,
sem manchar alvura
dos respeitáveis senhores
tão branquinhos!
Já raiou a liberdade
nas fronteiras da nação.
Majestosa como a Lua
Isa aos negros deu a rua
Em sinal de gratidão.
Nhozinho diz ter amor aos seus negros
-Têm todos alma branca!
E o povo acha linda a bondade
de nhozinho Brasil!
Já Raiou a liberdade,
acabou a resistência,
mas por favor meus senhores,
só venham para a entrevista
os de boa aparência!
O preconceito é uma vergonha
que varremos para debaixo
do tapete verde
e esquecemos, diante das canções
de amor eterno e das novelas
com finais felizes.
Já raiou a liberdade,
nesta pátria, mãe gentil
com cotas na faculdade
se fala em igualdade
de uma forma pueril.
No meu Brasil de verdade
a luta é dura, eu sei.
Perdi a conta, meus manos
dos negros que encontrei,
ainda travando batalhas,
guerreando sua guerras;
uns alheios, outros não,
esperam em seu coração
alcançar dignidade
nessa nossa amada terra.