Mestiçagem de dor. (Dia da Consciência Negra)
Eis que na mistura, nasci
remexi dentro de cores
aquilo até parecia feliz
eram verdadeiramente muitas cores
todas para minha formação.
Era com imensa ansiedade
que esperava o resultado
eu sairia dali prontinho
para o mundo
e pensava no quanto podia alegrá-lo com mais uma cor, que não era qualquer uma, era a minha cor.
Ouçam os primeiros gritos
sou eu, chorando de felicidade
embora nos braços da enfermeira
já senti repulsão
devia estar escuro, eu pensava, ela não enxerga quão feliz é meu colorido.
Cresci
e todos os apelidos que imaginar
senti na pele,
deveras na pele.
Havia um problema com a minha cor.
Logo a minha cor
que parecia tão bem formada
um preto tom forte
não retirando a beleza branca
mas quando se é preto, parece que a pintura foi feita com eficiência, sem pressa, forçando um certo brilho.
Chorei pela segunda vez
e agora não é porque nasci
meu corpo preto estava repleto de manchas vermelhas
não conseguia entender
vamos respiração, seja tão forte quanto o preto da minha pele, foi inútil, ela parou.
Percorri um caminho desconhecido
embora iluminado
minha cor iluminava esse mundo
mas não servia para o que me encontrava antes
eis que alguém exprime numa certa melancolia: naquelas terras, apenas há miscigenação de dor.