do ser Poeta... (ao Dia do Poeta)
Ser poeta
É caminhar nos extremos,
do riso à lágrima, do amor ao ódio
galgando a plenitude efêmera da palavra.
É ter o verbo que alimenta o outro
sem sequer se alimentar primeiro,
é consolar e nunca se sentir consolado.
É dormir sobre espinhos e ver brilhar as estrelas
num céu onde lidera o sol. Inverter a natureza.
É invejar-se por ser tão insatisfeito
sentir-se total neste desconforto,
matéria do seu pulsar.
É orgulhar-se de se sentir mediador
ao cantar do mundo
os seus mandos e desmandos.
É ter gula de absorver dores não sentidas
os sonhos não sonhados. As perdas não havidas.
É ter preguiça de olhar para fora de si
e sofrer o não sofrido.
A luxúria dos amores não vividos
e gozar o não sabido.
É viver a ira, socar o vento
quando impotente de tocar o falso
e torná-lo verdadeiro.
É ter a avareza de poder tomar da palavra
fazê-la sua num verso único
perdido das letras, fugido dos dicionários,
vergonha às vezes das gramáticas.
Ser poeta é viver de eterna penitência
transitar nos vales sombrios dos pecados capitais,
nos sabidos e nos ocultos
nas prisões da alma, e
tantas vezes morrer‐se em pecado e graça
e renascer na esperança,
somente porque se sente um ser...
ser poeta... o que vive o além e o aquém da Paz