SEM RIMA 110.- Brasil e a galeguidade
Completo a notícia sobre o autor a quem na Galiza é dedicado o DIA DAS LETRAS GALEGAS deste ano 2012.
Apenas citarei, sem comentar, algum excerto de um seu artigo intitulado “A evolução transcontinental da língua galaico-portuguesa”, publicado em Lugo (Galiza) e em 1968 no volume coletivo “O porvir da língua galega”.
Afirma o escritor Valentim Paz-Andrade:
“O mapa da língua de Camões e Rosalia [Castro] abrange terras de quatro continentes […]
“Hoje o cômputo anda pelas beiras dos cem milhões. Todos se entendem, ou podem-se entender, nas mesmas vozes.O feito de que algumas dissemelhanças se apreciem na fonética ou na escrita não merma validade ao sentido.
“Do total de aquele censo, mais dos oitenta milhões vivem só num país. O que há de ter sempre papel gravitante no conjunto, não somente pela força do número. Hoje também pela pujança económica e a hierarquia da sua literatura.
“Cumpre engadir* que, entre o contingente sobremaioritário do Brasil, e no núcleo originário, aquelas dissemelhanças são minguadas. Maiormente no idioma escrito. O exemplo da prosa de Guimarães Rosa, entre outros menos ao dia, constitui o melhor testemunho para reforçar a nossa apreciação.
“Os dados que descrevem a expansão já arrecadada pela língua galaico-portuguesa são impressionantes. Mas o são muito menos do que terão de ser, ao cabo de alguns decénios. Os índices de crecimento demográfico e também económico do Brasil fornecem prova antecipada da realidade que está a vir, muito mais densa e próspera ainda da que hoje existe.
“Demorarão mais, se se quer, outros paíse como Angola ou Moçambique, em chegar a uma escala de maior desenvolvimento. De todos os jeitos, a descolonização nunca poderá incluir a língua, seu melhor herdo, definitivamente jungido à história futura de muitos povos chamados a conseguir fortes aceleramentos no ritmo da sua expansão.
“Portanto, dentro da comunidade o valor ─ espaço enquanto valor ─ tempo da nossa língua são bem claros. O primeiro é de uma realidade grandiosa. O segundo vem a ser hoje tão positivo como prometedor face ao amanhã.”
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Eu, recantistas amadas e queridos,
não fui ao Brasil... ainda;
espero antes de morrer visitar-vos.
Mas, se não pudesse, sabei
dos meus fortes desejos de vos abraçar
tantos que já quase me vejo viageiro impenitente,
como o era Valentim, o grande,
o clamorosamente enorme...
Mas eu nunca iria para negociar
de transações comerciais.
Valentim, sim, foi como responsável
de companhia de pesca e outros misteres...
Eu mal faria o que ele logrou fazer:
negócios, contemplações das gentes,
conhecimentos dos homens de das paisagens.
Era (não apenas tinha) espírito universal,
porque como universal concebia a sua língua
portuguesa da Galiza (ou idioma galego),
tanto que fez parte da “Comissão para a integração
da Galiza no Acordo Ortográfico” por convite
de um bom amigo e também viageiro,
José Luís Fontenla, grande pessoa.
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(*) “engadir” v. tr. (1) Agregar, incorporar uma cousa a outra. (2) Aumentar, acrescentar.
Sinóns. "adir", "adicionar", "juntar".
[lat. in + addere > en + addere > eng + adir]