sessenta

SESSENTA

Wilton Porto

Estou com o livro da minha vida

Aberto sobre a mesa do meu quarto.

Vejo que hoje, 13/10/2011, completei sessenta passos.

Nas ruas, praças e lares onde meus pés pisaram,

Percebo que não deixei marcas de lama.

Mas pela quantidade de telefonemas,

De telegramas, e-mails vibrando no meu lar,

Dá para sentir a minha timidez.

Fechando os olhos, na tela de minha mente,

Visualizo os púlpitos de onde derramei

Palavras sob a inspiração divina.

Elas adocicam as frustrações inevitáveis

E me fazem olhar para o céu e reconhecer

Que há charme na lua, beleza nas estrelas.

O giz que deixou marcas como rinite, sinusite,

Não se importou um pouco sequer,

Que minha voz tem valor inestimável

E tortura minha garganta

Como se a impiedade em pessoa.

Na estante, leio na capa de alguns livros,

Que o autor sou eu.

Na pasta, diplomas informam

Como estou além do beabá.

E até um manto num cabide do guarda-roupa,

Leva-me a compreender

Que adentrei os portais de uma academia

Que me é importante:

Ela é de letras e pelas letras

Tenho traduzido o que pouco sou.

No centro da arca, eu oro em línguas.

As revelações iluminam a minha intuição.

Sinto-me uma tocha

Em noites sem velas,

Uma mão limpando feridas,

Uma oração que pode curar, que pode salvar.

Minha esposa beija-me, ama-me...

Diz que não sabe viver sem mim.

Acredito que Deus nos colocou frente a frente.

Já que Deus está lá em cima,

Ela está cá embaixo

E entre o em cima e o embaixo

Um campo aberto de poesias

Escritas em sessenta passos de vida

Que em mim canta felicidade.

Felicidade tanta,

Que artrite, artrose, gastrite, colelitíase

Não jogam por terra o brilho do sorriso

A cada dia mais colorido no meu rosto.