PAPAI NOEL DE LATA

Sem brinquedos, sem renas,

Sem trenó, mãos vazias, pois,

Um belo Noel de lata fora

Resgatado à flor da enxurrada

Por quem garimpava a sobrevivência

Nas lixeiras luxuosas dos parques.

Embora sujo e enlameado,

Ele mantinha o riso rasgado

Como a cantar jingle bells

Que despertou o outro riso

No rosto roto pobre e faminto,

Por tão importante achado.

Sua prateleira agora ostenta

Em meio ao vazio crônico,

Um belo Noel de lata

Ali radiante, concreto,

No seu jeito mômico,

Trajando sua indumentária.

A julgar-se privilegiada

Por tão nobre hóspede

Trouxe à face duas lágrimas,

Uma de riso, outra de choro,

Linda pela singeleza

Cruel pela realidade!

A ceia pronta, pão e água,

Como se fossem manjares divinos.

Um sonho enfim realizado

Valsam os dois abraçados

Todas as danças reprimidas

Canta ela todos os cânticos que vêm.

Um Papai Noel só para ela

A aflorar-lhe reminiscências.

Então a luz tosca se fez estrela,

A palafita se fez palácio

Sustentado por longas colunas

Fincadas num espelho d’água.

E o espelho da vida revelou ali

Uma velha jovem, uma criança,

Que por fim adormeceu acalentada

Por um porre de alegria

Sobre um “tapete persa” de aniagem

Macio, como nunca lhe fora a vida!

Não!

Que ninguém mais a chame

Nem batam à sua porta,

Deixem-na dormir tranqüila,

Morreu esta manhã, sorridente,

Feliz como uma feliz criança

Abraçada ao Noel de lata!

SBC-SP-José Alberto Lopes®

25/12/2006

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 26/12/2006
Código do texto: T327934