Manoel de Barros e o Dia Nacional da Poesia

Estamos em meio ao caos, do qual muito foi provocado pelo ser humano. Diante disso e do Dia Nacional da Poesia, escolhi Manoel de Barros para falar tão sabiamente sobre ela, pois compreendeu que é a Natureza o grande quintal dos poetas, onde podem ver "as pobres coisas do chão, mijadas de orvalho" e, tal qual essas pobres coisas, se banhar no mijo do orvalho, para que, também das palavras, se brote poesia. Ele consegue me fazer "ser árvore", para "incorporar" poesia.

Excertos de Manoel de Barros. Que a poesia esteja na vida de todos.

"Achei que os eruditos nas suas altas

abstrações se esqueciam das coisas simples da

terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo

— o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase:

A imaginação é mais importante do que o saber.

Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei

um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu

olho começou a ver de novo as pobres coisas do

chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E

meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam

o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no

corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas

podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as

próprias asas. E vi que o homem não tem soberania

nem pra ser um bentevi."

"Então se a criança muda a função de um

verbo, ele delira.

E pois.

Em poesia que é voz de poeta, que

é voz de poeta, que é a voz

de fazer nascimentos -

o verbo tem que pegar delírio."

"Para entender nós temos dois caminhos:

o da sensibilidade que é o entendimento

do corpo;

e o da inteligência que é o entendimento

do espírito.

Eu escrevo com o corpo.

Poesia não é para compreender,

mas para incorporar.

Entender é parede; procure ser árvore."

"No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava

escrito:

poesia é quando a tarde está competente para

dálias.

É quando

ao lado de um pardal o dia dorme antes.

Quando o homem faz sua primeira lagartixa.

É quando um trevo assum e a noite

e um sapo engole as auroras."

"Insetos cegam meu sol.

Há um azul em abuso de beleza.

Lagarto curimpãpã se agarrou no meu remo.

Os bichos tremem na popa.

Aqui até a cobra eremisa, usa touca, urina na fralda.

Na frente do perigo bugio bebe gemada.

Periquitos conversam baixo."