O Dia do Professor

01 - A VELHA MESTRA

Curvada pelo peso dos anos, a velhinha

De cabelos brancos caminha lentamente...

Passo difícil, certamente, mas a sustinha

Aquela força invisível, aquele ânimo profundo,

Que o enfrentar das tempestades dá ao navegante

Dos mares sem deuses deste mundo!...

Parou, pensando atravessar a rua, hesitante;

Aproximei-me e, solícito, tomei-lhe a mão,

E ela se deixou levar, confiante.

No outro lado, fitou-me, e com um brilho

Novo no olhar, exclamou, sorridente:

-"Mas, Tonico! És tu, meu filho?"

Era Dona Concita, a minha mestra do primário!

Era a velha professora a lembrar-se

Quarenta anos depois - fato extraordinário! -

Do meu apelido familiar, detestável apelido,

Que o garoto de outrora abominava, mas que o homem

De hoje, agora ouvia, profundamente comovido!

02 - MINHA ORAÇÃO DE PROFESSOR

Senhor,

Antes de começar o meu trabalho,

Dá-me um tempo de reflexão e prudência

Para convencer-me de que nada valho,

Se não construir uma alma maior que a inteligência...

Que eu não use estas salas para esvaziar

Meu pesado fardo de fraquezas e defeitos.

Que possa ser inflexível em jamais acalentar

Nesses corações ódios, egoísmo e preconceitos!

Que ao pisar nestas salas eu possa esquecer

Minhas inquietas sombras, e revelar

Uma grandeza – mesmo incomum ao meu ser,

E um equilíbrio de que eu mesmo possa me espantar!...

Então não me conhecerei, mas serei exemplo

Para os que me vêem além da informação;

E cada sala poderá ser o meu templo,

Onde a tarefa nobre se constitua oração!

Que, não sendo arbitrário, tampouco seja condescendente

Com a intolerância e a injustiça

E que princípios acima do eu seja minha permanente

Cotidiana e sempre maior premissa!...

Que a palavra – esta gloriosa ferramenta

Deste operário do ensino – humilde professor,

Seja nutrida da sabedoria que a vida alimenta

E que descobre, entre espinhos, insuspeitada flor!

Que a minha vaidade não aumente o grão que sou,

Nem lhes fale de cabedais que não reúno,

Mas, olhando-os como outrora alguém me olhou

Eu jamais esqueça de que um dia também fui aluno!...

03 - A MELHOR TÉCNICA PARA ENSINAR.

Qual é a melhor técnica,

Qual é a melhor fórmula para ensinar?

Memorização, motivação, contextualização,

Metodologia X ou Y, qual aplicar?

Domínio de classe, o que é, como traduzir:

Incentivar, conversar, convencer, disciplinar

Ou simplesmente conduzir?

Burocratas e teóricos, do ensino afeitos,

Enchem compêndios e em elegante linguagem,

Elaboram pressupostos e destilam conceitos!

Supermestres, PHD’s de sabedoria lapidar,

Confundem-nos a cabeça, pois dizem tudo,

Mas não dizem o que é mais elementar:

Como motivar 60 alunos em acanhadas salinhas,

Todos filhos da injustiça social e inversão de valores

Morais que nos assolam como ervas daninhas?!

Como motivar numa sala 60 alunos que, empiricamente,

Já se reconhecem parcelas a mais de excluídos

E sabem que não “são”, mas que “estão” somente?

Caro professor, neste momento, os compêndios

Se transformam em bela, mas inoperante retórica,

E não rendem, nessas salas, maiores estipêndios.

Mas, se estás perto de tal Sistema te tornares submisso

E me perguntas qual a técnica que deves usar,

Eu te respondo: “Põe teu coração nisso!”

04 - O MEU “PRIMEIRO AMOR”

Faz tanto tempo...

Mas bem me lembro ainda

Da sua figura frágil, suave,

Toda encanto e doçura...Linda!

Quando ela entrava, a sala se iluminava,

Era festa no meu coração, e parecia

Que, de luz, meu ser inteiro se tornava!...

Os cabelos louros, o porte airoso e belo,

Sua doce voz em sonhos me embalava.

Meu Deus! Ela era o meu mais caro anelo!...

Faz tanto tempo...

Mas não esqueço a figura sedutora

Do meu primeiro e grande amor:

Dona Rosário, a minha primeira professora!...

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 14/10/2006
Reeditado em 06/05/2010
Código do texto: T263999
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