Sexagenário

Um dia,

Não sei se faz muito ou pouco tempo,

A minha mãe

Convulsionada nas entranhas,

Rompeu seu interior e,

Sem nenhum trauma,

Trouxe-me até aqui,

Para que eu vivesse as delícias de um tempo novo.

Também convulsionado pela fome,

Saciei-me sugando seu seio.

Na medida em que eu vivia,

Também crescia.

E, quando menos esperávamos (ela e eu),

Transformei-me num noviço fogoso,

A procurar no vento,

O cheiro da mulher que queria para mim.

Também não faz tempo,

Eu a encontrei.

Pelos caminhos percorridos,

Construímos um barraco,

Onde aportamos nossos sonhos,

Sem trégua para descanso,

O tempo passou célere,

Pintando de branco os meus cabelos.

Hoje, com a escassez da testosterona,

Encontro minha paz,

Nos sonhos que meus filhos sonham,

Na firmeza de propósitos de minha companheira,

Que, com paciência e zelo,

Suportou-me até agora.

Sem chance para recuar no tempo,

Quedo-me a rever meus conceitos,

A lembrar, com tristeza,

Os erros praticados,

Fazendo sofrer quem nunca teve culpa.

E,

Com extremada alegria,

Relembro meus acertos, minhas conquistas,

Motivo maior para a felicidade de muitos.

Novamente, um tempo novo me cerca:

A segunda mocidade de Cora Coralina.

Sexagenário, mas ainda não cansado de viver,

Procuro no meu lugar, na minha aldeia e no etéreo,

Melhores razões para acreditar na possibilidade de acertar,

Muito mais do que antes.

Maiores motivos para compartilhar com meus próximos,

Os resultados de meu aprendizado,

Durante esses anos todos.

Consciente, paciente e esperançoso,

Completo sessenta anos,

Convicto de que:

Dias melhores virão em nossas vidas. - Na minha e na de todos meus amores (Esposa, filhos, mãe, sogra,tio(a)s, irmãos, primo(a)s, sobrinho(a)s, cunhado(a)s, amigo(a)s, todos que me cercam.

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 12/07/2010
Reeditado em 13/07/2010
Código do texto: T2374014