BORGES, O POETA

Áspera voz. Voz de pássaro cego,

crepuscular som do vento entre as folhas das árvores oníricas.

Seus versos galopam no silêncio e na escuridão.

Cegado de paixão pela literatura,

louco de paixão e de poesia,

poesia nascida da insônia,

da nefasta escuridão sem pranto, das sombras da vida.

Taciturno o coração petrificado nas dores das retinas mudas,

nas páginas dos livros

e nesse clandestino retrato já esquecido

de aquela Buenos Aires,

estrela vespertina,

vestida de luzes e sussurros ao cair o Sol.