QUANDO AQUI CHEGUEI
TEMPOS DISTANTES SE FOI
DA TERRA NADA VOU LEVAR
PLANTEI, AGUEI, RETIREI
REVOLVI A TERRA
NADA MAIS PRODUZUI
EXPIROU, ACABOU.
NOVA TERRA FUI ESCOLHER
PARA MORAR, PLANTAR
SOFRER, MORRER.
ESTUDO NÃO TINHA
CAÇAR MEU BRINCAR
CORRER COMO GAZELA
PROCURANDO O QUE COMER
FRUTINHAS, DOCES
ATÉ ME EMPANTURRAR
HOJE O ÍNDIO QUER SER GENTE
NÃO COMO O BRANCO
ELE É MAU. MATA SEM DÓ SEM PIEDADE.
MEU DIA É 19 DE ABRIL, DIZEM!
DIA DE QUÊ?
ME PERGUNTO.
COMEMORAR O QUÊ? PRA QUÊ? PRA QUEM?
PRA MIM QUE ROUBADA FUI DAS MINHAS ENTRANHAS
DO MEU POVO. LIMPO, HONESTO.
QUE NÃO TEVE O DIREITO DE FICAR.
FUI TRAZIDA PARA O MEIO DO POVO, DE GENTE.
GENTE QUE SE DIZ GENTE, GENTE MÁ.
NÃO SÃO TODOS RUINS, EU SEI,
AINDA EXISTE GENTE DE CORAÇÃO,
APRENDI NA ESCOLA DA VIDA.
OU VOCÊ SE FAZ GENTE OU NÃO É NADA.
VAMOS NO DIA 19 DE ABRIL
DIZER: SOMOS OS DONOS DESSA TERRA
DESBRAVAMOS, LIMPAMOS AS TERRAS
A TROCO DE NADA, NEM UM PEDAÇO DE CHÃO EU TENHO
QUEM VAI ME DÁ, VOCÊ, ELES, OS QUE SE SENTEM DONOS DE TUDO!
NÃO QUERO COMEMORAR NADA
PORQUE NADA TEM PARA COMEMORAR,
APENAS LEMBRAR QUEM UM DIA FUI POR POUCO TEMPO
DONO DE ALGUNS PÉS DE FRUTAS, EU TIRAVA A FRUTA E NEM PRECISAVA LAVAR, A ÁGUA ERA PURA, LÍMPIDA, CLARA
ACHO QUE TINHA CHEIRO, COMO ERA BOM.
ANDÁVAMOS SEM ROUPA, LIVRES PARA VIVER, SEM RECLAMAR
HOJE AS ROUPAS NOS PRENDE PARA TRABALHAR.
DAR DE MAMAR ERA UM VÍCIO QUE O HOMEM BRANCO VEIO PARA ACABAR COM AS CULTURAS QUE AQUI CHEGARAM, TROUXERAM TAMBÉM SUAS MAZELAS.
LEVARAM O OURO, AS MULHERES, AS COISAS BOAS E O RESTO
ESTAMOS NÓS A CATAR.