Uma tarde

O sol alaranjava o céu

Enquanto a pipa corria, serpenteava.

As nuvens também estavam lá,

fazendo coro com aqueles bichinhos

que nós nem conhecíamos.

O cajueiro do quintal vizinho

olhava tudo aquilo orgulhoso.

Afinal, há uns vinte anos

aquela sinfonia nunca desafinava.

Deixou escapar um sorriso, coisa rara.

O avião passava ao longe,

com aquele ar de pressa e prazos.

Ignorava tudo olhando as hélices,

que giravam, giravam e giravam,

lembrando seu relógio prateado.

Pouco a pouco as janelas acendiam.

O pai chegava cheirando logo o café

e as crianças... as crianças só riam:

mamãe acudia vovó,

que se aborrecia com os mosquitos.

Os pássaros já calavam;

a pipa descia devagar.

O sol, com um longo bocejo,

cumprimentava a lua,

a preferida dos apaixonados.

Eu, como meu amigo cajueiro,

Olhava todas as coisas

E escrevia estes versos.

Agradecendo a Deus

Mais uma tarde de vida.