Peripécias de São João

Botaram-me de padre

No teatro junino

Mas eu queria ser o noivo

E não o peregrino

A noiva caipira

Tinha os olhos da cor do caldo verde

Era baixinha, pintadinha, de trancinhas

Seu sorriso maquiado e contente

Larguei a batina e fui comer pinhão

Doeu meu coração ver a noiva e o garanhão

Engasgado enchi a cara de quentão

E fui dançar quadrilha dando tropicão

_Olha a cobra!

Eu corri

_É mentira!

Eu morri

De vergonha

Comi pamonha

E milho assado na fogueira

Entrei dentro da casa grande

Pra ficar sozinho...Por algum instante

Eu preferi a lareira

Tinha dois “peão”

Fazendo serenata

Com a mão no coração

Ouvia encantada

A noiva Renata

Aquela toada

Não sabia tocar violão

Tava bêbado e nem era belo como o noivo trovador

Como roubar o coração

Daquela caipirinha enfeitada, perfumada como a flor?

Eu poeta vitalício, viciado

Fiz versinhos na poeira do abajur

E ela de rabo de olho

Leu meus versos um por um

Tava sentado lá fora

Vendo a lua de São João

O fogo virou fumaça

E a fumaça virou carvão

Quando o baio foi embora

Fiquei eu, cavalo magro

Ela disse: _Ele é uma chato

Posso sentar do seu lado?

Guilherme Sodré
Enviado por Guilherme Sodré em 30/05/2009
Reeditado em 30/05/2009
Código do texto: T1623761