PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE CRAVOS...
(aos amigos portugueses)
®Lílian Maial
E desce a foice,
encoberta pelos hábitos, caldos e migalhas.
Decepa cabeças e troncos,
destrói o milho,
que não espera a desfolhada.
Um vulto negro sobrevoa tilintando o poder,
entrelaçado de artimanhas,
num debilitar de conquistas,
até o sórdido aquiescer dos silêncios.
Onde os direitos fundamentais,
a resistência, os trabalhadores?
O manto oculta as violações,
os saques, o sonho de democracia.
Era apenas abril,
mas o céu trazia a promessa de farta colheita,
o cheiro de vida e futuro.
Hoje resta o discurso e o fosso,
Que enterra a paz social e as liberdades.
O sangue ainda tinge o cravo,
mas a tirania do ouro empalidece a tez da igualdade,
numa revolução fictícia e benta de interesses.
Sinuoso monstro de feições conhecidas,
o verme capitalista devora lentamente
o grito de Abril.
O trabalhador carrega o fardo
e depõe as armas, a voz, a força,
acuado por fantasma que arrasta correntes alheias.
Novamente é Abril
e o povo sabe.
Navegar é preciso.
Mudar é preciso.
Muda o rumo, a esperança, a justiça!
A mentira é prato forte da serpente política.
A batina esconde a venda e a fortuna.
E não há anjo da reconciliação de classes!
Fome e miséria não esperam,
e os pobres já não querem mais se alimentar
apenas do suficiente para continuarem
escravos dos seus senhores...
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