Pelo Dia da Poesia: A CONCUBINA

A CONCUBINA

Lílian Maial

Roída em desespero e amargura,

mandei-te a poesia inda menina,

envolta em vãos disfarces de candura,

no intuito de fazê-la concubina.

P'ra ela entregarás todo o fervor,

enquanto assim me lês do início ao fim.

E aqui, eu me contorço em teu calor,

que brota ao folheares só a mim.

A ela alisarás - dedos macios,

carinhos pelas folhas de leitura.

E eu aqui, entregue aos desvarios,

deduzo tuas mãos em mil loucuras.

A ela ensinarás os teus mistérios,

ao passo que me deixo aos teus comandos.

Enquanto alisas páginas de tédios,

meu coração me diz que estou te amando.

E assim pude prever os movimentos,

teus medos, pensamentos, teus enfoques.

Descuido de anotar que os sentimentos

Já tinham o endereço no envelope.

E então te apaixonaste pelo inscrito

nas folhas, sem saber do coração.

E aqui, eu sofro muda, em ar contrito

sem ter como dizer dessa paixão.

E desse jeito eu fiz a concubina,

dublê na poesia desse amor,

e soube, enfim e pude ver ainda

teu coração cativo deste autor.

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