Sonho!

Sonho a verdade que vivo

Sonho a verdade que quero

Não sei perceberás que

Enquanto o meu sonho acontece

Ele é tão real como eu ou tu

Ou a terra escorrendo entre os dedos

Ou o frio gelado através da janela aberta

Não sei se acreditas pisar o solo

ou te arrepia o frio

Mas sei que o meu sonho é a sério.

De abstracto se faz concreto.

Não se sonha acordado como se dormindo

Sonha-se algo há muito previsto, congeminado

É um acto de ir ensaiando vezes sem conta

a mesma peça

De que geralmente sou apenas cenário

Produtora, sim, mas é raro eu ser a heroína que

Fica sorridente e airosa agradecendo os aplausos.

Eu sou o íntimo em cujo regaço

O sonho se congeminou

E sou feliz no momento do voo

Como a mãe de um pássaro

Que vê o filho capaz de largar o ninho

Para se elevar no céu

Para se fundir no horizonte

Livre, absoluto, brilhante

Assim eu quando um sonho acontece

E se o ovo chocado gorou

Noutro lugar de mim reconstruo

A árvore, a cortina e o palco

E a concepção principio

Do prólogo ao último acto.

Maria Petronilho

Lisboa, 9/9/200